Thursday, 15 January 2009

Simetria

Li no dicionário que simetria vem do latim symmetria, que por sua vez vem do grego summetros. Summetros significa "de mesma medida".
Simetria é um conceito importante para os humanos. É relacionado com a beleza, ordem, proporcionalidade, equilíbrio. Procuramos simetrias por onde quer que estivermos, pois isso nos faz sentir mais seguros, nos ajuda a entender o mundo a nossa volta, simplifica as coisas.
Acontece que nem sempre encontramos simetrias por aí, e às vezes forçamos a barra, transformando coisas assimétricas em coisas "de mesma medida."
É exatamente isso que vejo que acontece com a cobertura do conflito entre Israel e Hamas, e em geral quando o assunto é Israel. Forçamos nossa visão de mundo que diz que deve haver um equilíbrio entre as partes em uma realidade que insiste em nos dizer o contrário. Daí surgem diversas aberrações, das quais tratarei abaixo.

- O cartoon abaixo é excelente para exemplificar o que quero dizer com simetria (ou a falta dela). Se invertermos a imagem (cartoon abaixo) a criança palestina seguirá na linha de fogo, e a criança israelense seguirá protegida pelo soldado. Não quero me extender aqui, acho que todos entendemos que estou falando do uso de crianças (e civis em geral) por parte do Hamas como escudos humanos, e do respeito que israel dá à vida humana. 


- Israel tem um exército, e cada um dos indivíduos é um militar. Portanto, a lógica torta nos diz que os componentes do Hamas são militantes. Não terroristas. Ativistas, combatentes, militantes. Isso deixa de lado um universo de diferenças: o Exército de Israel não se esconde no meio de população civil, o Hamas sim; o Exército de Israel usa uniforme para se identificar, os "ativistas" do Hamas muitas vezes não; o Exército de Israel faz o máximo para não ter civis como vítimas, o Hamas faz o máximo para ter civis como vítimas; o Exército de Israel recebe ordens de um governo democraticamente eleito, o Hamas é um governo democraticamente eleito que matou a oposição e instituiu uma ditadura islâmica.

- Parte dos israelenses já sonharam com a "Terra de Israel Completa", que seria o que Deus prometeu a Abraão (do Nilo ao Eufrates). A maior parte deles já abandonou esse sonho, tendo que confrontar-se com a realidade. Em 1978 Israel e Egito assinaram um acordo de paz em Camp David, que incluia a retirada de Israel da península do Sinai. Em 2000 Israel deixou o sul do Líbano. Em 2005 Israel deixou a Faixa de Gaza. Segundo minhas aspirações políticas, espero que Israel faça um acordo com os palestinos e deixe a Cisjordânea e Jerusalém Oriental. E os terroristas do Hamas? Bem, até o dia de hoje eles não reconhecem o direito de Israel existir, lutam pela libertação da terra que foi usurpada deles, e sua meta final é a destruição do Estado de Israel.

- Finalmente o número desproporcional de mortos. Depois de ler tudo isso, não é surpresa que isso também não deveria ser equilibrado. Com a ideologia e métodos usados por ambas as partes, é apenas esperado que haja mais mortes do lado palestino. Não digo isso sorrindo ou contente. A imprensa mundial publica com horror o fato de que mais de 1000 palestinos terem morrido nessas últimas três semanas. Não sei o número ou proporção dentre essas mil pessoas que eram terroristas, mas certamente estou aliviado que pessoas que sonhavam com a destruição de Israel agora estão com suas virgens no céu. E a respeito dos civis palestinos mortos, ninguém está festejando (talvez a liderança do Hamas pois "boas fotos" saíram daí), em Israel esse tema é tratado com extrema seriedade e a imprensa não esconde os fatos. 

Eu sinto de verdade que os palestinos tenham a liderança que tem, que hajam escolhido serem governados pelo Hamas e que estejam vivendo em condições deploráveis. Espero que esse último conflito faça os palestinos entenderem que o Hamas não está interessado em seu progresso, pois seus líderes estão confortavelmente sentados em Damasco, recebendo instruções do Irã. O Hamas está sacrificando sua população por uma ideologia digna da Idade Média, com tecnologia digna do século XXI.

12 comments:

  1. Meu problema com relação à atitude de Israel não é com relação a seu objetivo, mas seus métodos. Não tenho dúvida de que Israel esteja tentando fazer a coisa certa, mas o problema é que o caminho escolhido foi o mais desastroso possível. Israel está lutando contra terroristas, mas age como se estivesse lutando contra um exército. Com isso quem sofre são as pessoas inocentes que o Hamas usa como escudo, pois elas acabam sendo tratadas como exército também. Não é lógica torta, é a atitude de Israel.

    Há cinqüenta anos quem era visto como terrorista eram os Israelenses, é só pegar jornais antigos e verificar. Não quero comparar judeus e islâmicos aqui, meu ponto é que um dia os papéis acabam se invertendo. A diferença é que Israel sempre teve o aval dos Estados Unidos - e por isso os israelenses não foram tratados da mesma maneira que os terroristas de hoje o são. Acredito que isso tenha influenciado o caminhho que o povo judeu tomou, porque, como você bem disse, "a maior parte deles já abandonou esse sonho, tendo que confrontar-se com a realidade". O mesmo tem que ocorrer ao povo palestino - eles ainda não "abandonaram o sonho", principalmente porque o Hamas usa a religião como instrumento de doutrinação, pregando o seu direito ao "Waqf".

    Afinal de contas, assim como Deus prometeu a Abraão as terras "do Nilo ao Eufrates", Alá também prometeu coisa parecida aos palestinos.

    E aí, quem está certo, Deus ou Alá?

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  2. O meu comentário no post anterior foi feito sob a mesma linha de raciocinio do sr. Francisco acima. Isto é, a inversão de papel que se deu ao longo desses mais de 60 anos e os sonhos coincidentes que possuem as duas nações, o que por si só compromete a coexistencia dos dois Estados idealizados, pela regra : dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Porque os dois povos se julgam como corpos distintos e, muitas vezes, opostos, quando, na verdade, suas origens remontam ao mesmíssimo lugar, época e desejo.
    E assim como muitos do lado palestino esperam e sonham pela destruição de Israel e libertação do seu território para uma nação sob a égide do islã, também muitos do lado israelense, principalmente os ortodoxos e ultra ortodoxos, não aceitam a permanencia de outro povo que não seja o judeu naquele pedaço de terra, pois só quando Israel for um país essencialmente judeu e todos lá estiverem reunidos com a reconstrução do 3° templo alcançarão a salvação. E então, os dois lados não se parecem muito mais do que se diferenciam?
    Em suma, precisamos mais de compreensão de lado a lado do que de críticas e insultos, porque qualquer semelhança não é mera coincidencia, é história.
    Beijos.

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  3. Francisco: não quero me meter na história de Deus, Alá, Afrodite, Thor... "Israel está lutando contra terroristas, mas age como se estivesse lutando contra um exército." Errado, se fosse o caso haveria 10 mil mortos.
    Danielle: a diferença é que os ortodoxos não são o "mainstream" israelense, longe disso, enquanto que em 2006 o Hamas foi o partido mais votado pelos palestinos. Confundir os lados e implicar que eles são semelhantes por motivos de origem não ajuda e não é correto (moralmente). É verdade que precisamos de mais compreensão, mas vai dialogar com um terrorista que te quer morto...

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  4. Yair, a diferença é que os ortodoxos não tem armas, aliás não fazem uso delas pq não vão para o exército. Os ortodoxos religiosos realmente não são o "mainstream" israelense, mas os ortodoxos políticos são, e quando tentam sair um pouco da linha perdem popularidade, apoio quando não são mortos como Rabin. Quanto ao Hamas, ele foi o partido mais votado pelos palestinos, correto e legítimo, quando se trata das eleições israelenses os resultados são diferentes? Não são os candidatos mais linha dura e ofensivos os escolhidos como era Ariel Sharon, até a retirada de Gaza, a partir de quando passou a ser considerado um traidor? Traidor por quê? Pq passou a fazer concessões, mesmo que o bem concedido já fosse por direito palestino?
    Reitero que os lados são semelhantes ,a diferença que existe é apenas de perspectiva, ou seja, de que lado nos encontramos.

    Danielle

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  5. Yair, até agora o melhor post do blog.

    Corcordo com 100% de sua análise brilhante e inteligente.
    Concordo ainda com as suas respostas ao Francisco e Danielle.
    Quanto a este ultimo comentario da Dani, peço vênia para comenta-lo:

    Prezada Danielle. Muito prazer. É ótimo dialogar sobre o conflito com uma pessoa que no ponto de partida assume tres elementos: 1- Israel tem Legitimidade para existir.
    2 - O hamas é uma organização terrorista.
    3 - Pelo citado acima, Israel tem o deireito de defender seus cidadãos.
    Voce me parece uma pessoa inteligente e centrada. E que dialoga sobre o conflito assumindo estes tres elementos. Portanto vou aos fatos:

    voce diz: "Os ortodoxos religiosos realmente não são o "mainstream" israelense, mas os ortodoxos políticos são"
    Não concordo. apesar de fazer parte da cena política no país, os partidos ortodoxos há tempos (uns 15 anos) não ditam as regras no que concerne aos territórios. Saimos do Líbano de maneira unilateral. Saimos de gaza de maneira unilateral. A cada dia mais e mais assentamentos são desmantelados. Ehud Barack fez uma proposta corajosa ao sentar na mesa discussão. A morte de Rabin é a prova da imbecibilidade ortodoxa existente no país. Mas lhe asseguro. Estes imbecis não governam Israel.

    voce diz: "Quanto ao Hamas, ele foi o partido mais votado pelos palestinos, correto e legítimo"
    Um partido eleito democraticamente não pode acabar com a democracia. O hamas matou 700 oposicionistas do fatah. O partido eleito democraticamente expulsou a oposição do país. Isto não é correto. Isto não é legítimo.

    voce diz: "Não são os candidatos mais linha dura e ofensivos os escolhidos como era Ariel Sharon, até a retirada de Gaza, a partir de quando passou a ser considerado um traidor? Traidor por quê? Pq passou a fazer concessões"

    voce ataca o que eu considero uma virtude.Ariel Sharon, e sua política linha dispostos a concessões, provam o interesse de Israel em um caminhar em direção a paz. A um entendimento. A percepção de que é possível dois estados: um judeu e um palestino.

    voce diz: "mesmo que o bem concedido já fosse por direito palestino?"
    não entendi muito bem. Pelo que eu sei dobre a história do conflito a concessão do direito a um pedaço de terra nesta parte do globo, na historia recente, foi em 48. A onu propos nesta ocasião os dois estados. Israel aceitou.
    Pelo que eu lembre a terra não pertencia aos palestinos. Se sim, voce poderia me esclarecer alguns pontos:
    a)qual a dimensão deste país?
    b)qual era a sua moeda?
    c)qual era a capital?
    d)qual era a forma de governo?
    e)ahhh. se possível. voce poderia me dizer o nome de tres lideres palestinos antes do arafat?

    voce diz: "Reitero que os lados são semelhantes ,a diferença que existe é apenas de perspectiva, ou seja, de que lado nos encontramos"
    não concordo, e acho que voce, infelizmente não entendeu a mensagem dos post do Yair. A simetria, neste caso, não existe.

    Um grande abraço

    Marcelão

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  6. Genial, Marcelão. Eu não queria responder outra vez, então faço das suas palavras as minhas.

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  7. Marcelo, acho então que vc nao me entendeu. Vou esclarecer apenas os pontos do meu comentário q vc citou.
    1- Os ortodoxos religiosos realmente não são o "mainstream" israelense, mas os ortodoxos políticos são. Eu não não disse que os "ortodoxos religiosos" governam o país, mas sim o q eu chamei de ortodoxos políticos. Ortodoxos políticos seriam a mistura de direita e extrema direita que governam o país.

    2- "Quanto ao Hamas, ele foi o partido mais votado pelos palestinos, correto e legítimo". Aqui vc nao me viu defendendo a política do Hamas, apenas citei que a partir do sistema democrático de voto o Hamas foi o partido escolhido legitimamente (até que se prove fraude no processo eleitoral). Portanto, o que defini como "correto e legítimo" foi a forma pela qual o Hamas assumiu o poder e não o que passou a fazer com ele.

    3- "Não são os candidatos mais linha dura e ofensivos os escolhidos como era Ariel Sharon, até a retirada de Gaza, a partir de quando passou a ser considerado um traidor? Traidor por quê? Pq passou a fazer concessões" - Aqui vc realmente não entendeu o meu ponto. Não ataquei Ariel Sharon pelas suas concessoes que fez em 2005, isso foi realmente admirável, vindo principalmente de uma pessoa com o perfil como o dele. O que quis dizer nessa passagem foi que Ariel Sharon foi eleito justamente por seu perfil ofensivo e linha dura, do tipo que nunca faria concessões como as que fez, e que por te-las feito passou a ser considerado um traidor, no meu ponto de vista, nao q ele seja relevante, erroneamente.

    4- Por fim : "mesmo que o bem concedido já fosse por direito palestino?". Eu me referi ao direito dos PALESTINOS, como NAÇÃO e não como PAÍS, pois esse nunca existiu, por isso mesmo não posso esclarecer os 5 itens que vc me pediu. O direito de ter sob seu controle um territorio internacionalmente reconhecido como seu para a criação de um futur - aqui sim -PAÍS, com moeda, capital, forma de governo e etc.
    Como não é mais do interesse do Yair responder ao tópico... Espero ter sido entendida Marcelão.

    Beijos.

    Danielle

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  8. Boa noite,

    Quero apenas parabenizar a iniciativa de escrever sobre o conflito e postar vídeos. Nós aqui no Brasil lutamos para ter algum material legítimo. A mídia está um horror!

    É difícil ver nosso país se corromper com opiniões dignas do nosso presidente mal alfabetizado com poder de convencimento.

    Que Deus abençoe Israel!
    Que o Senhor te conceda a paz.

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  9. Danielle, agora entendi com clareza os teus pontos....
    1 - É errado dizer que o país é governado pela direita e extrema-direita. A extrema direita não está bem. O novo partido Habait Haiehudi tem 3 cadeiras na Knesset pelas últimas pesquisas. Se fosse a direita e extrema-direita que governasse o país, a oposição liderada por Bibi teria feito o governo do Kadima cair há 2 anos, mas não foi isso que aconteceu...

    2 - "Quanto ao Hamas, ele foi o partido mais votado pelos palestinos, correto e legítimo, quando se trata das eleições israelenses os resultados são diferentes?" Sim, são bastante diferentes. A comparação é forçosa e não faz sentido algum.

    3 - Ao mesmo tempo que Sharon é considerado traidor por seus antigos aliados, a maior parte da população israelense apoiou a retirada de Gaza, e acho que Sharon entrou no panteão dos grandes líderes de Israel por ter saído de Gaza. Sem isso acho que ele seria considerado líder por um setor da sociedade, e não amplamente como é hoje.

    4 - "Reitero que os lados são semelhantes ,a diferença que existe é apenas de perspectiva, ou seja, de que lado nos encontramos." Isso é justamente o contrário de tudo o que escrevi no post acima. Você não precisa concordar comigo, mas acho que você carece de uma argumentação mais sólida e coerente.

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  10. Oi Yair, meu nome é Carla e moro na Alemanha, tb tenho um blog e fui baby sitter da Liat nos idos de...(nao importa, hahahha) já passei noites dessa semana em claro, respondendo à posts tortos e anti-semitas de blogs brasileiros,(dá um trabalho q vc nem imagina) vc e o Andre estao fazendo muito bem a parte de vcs, ótimo blog e ótimos posts, só vi o teu blog e o do André hj, e vou ler com mais tempo,

    Bjo grande pra vcs fiquem bem e Shabat Shalom!!!

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  11. "Errado, se fosse o caso haveria 10 mil mortos."

    De jeito nenhum. Haveria 10 mil mortos se Israel fosse mal-intencionado. Israel não está atacando os terroristas em si, está atacando as cidades que eles usam como base. Se Israel agisse como se estivesse caçando terroristas o número de baixas civis não seria tão grande. Operações abertas não funcionam contra terroristas. Se for necessário citar um exemplo recente, o fiasco americano em derrubar o Taleban diz tudo.

    Agora, "não se meter na história de Deus, Alá, Afrodite, Thor..." é justamente o grande problema! Enquanto diferenças religiosas não forem resolvidas e tiradas do caminho será muito mais difícil o caminho para a solução dos problemas nessa região.

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  12. Olá. Recentemente li que para os judeus os demais humanos são piores que cães. Podem escravizá-los, matá-los, etc. Isso é ensinamento rabínico. Isto é verdade ? E com relação ao posicionamento dos soldados israelenses para combate (na frente de criancinhas) fiquei na dúvida. Vi muitas fotos e vídeos onde os soldados israelenses apontam seus fuzis diretamente para a cabeça das criancinhas palestinas. Será o temor de que são criancinhas bombas ? O blog é muito bom. Mas toda moeda tem dois lados. Sempre admirei muito o país ISRAEL mas a medida que procuro estudar a história real e verdadeira essa admiração veio decrescendo. E ambos os povos não tem culpa. São manipulados por seus políticos, militares e suas crenças religiosas. Que o SUPREMO CRIADOR DO UNIVERSO me perdôe mas não acredito ( só se ele pessoalmente me falar) que ele destinou uma parte da terra para determinado povo (judeu) sendo que o local já era habitado. Para min esse fato que consta na Bíblia foi uma solução tipo reforma agrária.
    Um grande abraço para todos e que no futuro a razão venha a orientar todas as decisões humanas.

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