Saturday 17 November 2012

Minhas impressões de Impressions of Gaza

Recebi alguns comentários sobre o post Terror é... dizendo que fui parcial, e que mencionei apenas o terror que israelenses sofrem, e nada do terror que palestinos sofrem por parte de Israel.

Antes de mais nada, isso aqui é um blog, e contei no post mencionado apenas experiências que tive em primeira mão. Parcial? Claro, não nego. Essa é toda a ideia do blog. Em momento algum neguei o sofrimento dos palestinos, contei apenas o meu ponto de vista, pois acho importante que isso faça parte do diálogo.

Meu amigo Henrique me passou um link para um artigo de Noam Chomsky entitulado Impressions of Gaza, de 4 de Novembro de 2012. No artigo Chomsky enumera sistemáticas violações dos direitos humanos e da lei internacional por parte de Israel.

Então vamos lá:

Eu não defendo as atitudes dos governos de Israel de olhos fechados. Não acho que os judeus sejam o povo escolhido. Não repito o mantra de que o exército de Israel é o mais ético do mundo. Nenhuma terra é santa, e uma vida humana certamente vale mais que uma rocha.

O texto de Chomsky é bem escrito e apresenta opiniões e fatos. Não vou fact-check os fatos, assumirei que são verdadeiros. O que está faltando nesse texto certamente é um pouco olhar crítico. Chomsky escreve
"Punishment of Gazans became still more severe in January 2006, when they committed a major crime: they voted the “wrong way” in the first free election in the Arab world, electing Hamas"
 Faltou dizer que uma das primeira medidas do Hamas em Gaza foi matar a oposição. Viva a democracia.

Faltou dizer que na introdução do tratado de fundação do Hamas, de 1988, está escrito que
Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o oblitere, da mesma forma que obliterou outros antes dele.
Fonte: The Avalon Project

Líderes do Hamas até os dias de hoje expressam esse tipo de opinião:
Co-fundador do Hamas e atual ministro do exterior do governo do Hamas Mahmoud Al-Zahhar disse em 2010
"Nós estendemos nossas mãos para alimentar esses cães famintos e bestas selvagens, e eles devoraram nossos dedos. Nós aprendemos a lição -- não há lugar para vocês entre nós, e vocês não tem futuro entre as nações do mundo. Vocês estão dirigidos à aniquilação".

Cito outros dois, só pra não ficar dúvida:
Yunis Al-Astal, 2011: Os Judeus foram trazidos à Palestina para o 'Grande Massacre' com o qual Allah irá 'aliviar a humanidade de seu mal'.
Um sermão de 2010 televisionado pela televisão do Hamas: A aniquilação dos judeus será atingida pelos muçulmanos; A destruição de seu estado só será atingido através do islã, por aqueles que se curvam diante de Allah.

Finalmente, faltou dizer que os líderes do Hamas não querem nenhuma forma de acordo com Israel. Para terminar o conflito, teremos que dividir essa terra em dois, mas lemos o seguinte:

Ministro do Exterior Mahmoud Al-Zahhar, 2010: Nosso plano nesse momento é liberar cada centímetro de terra palestina, e estabelecer um estado ali. Nossa meta final é ter a Palestina inteira. Eu digo isso alto e claro para que ninguém possa me acusa de usar táticas políticas. Nós não reconheceremos o inimigo israelense.

Ministro do Interior e da Segurança Nacional Fathi Hammad, 2012: Portanto, deste lugar, nós declaramos a todos aqueles que usurparam nossas terras que eles devem se preparar a partir, porque nós nos preparamos para Jihad. Vocês vão embora, enquanto nós fomos chamados à batalha. Nós somos os donos desta terra. [...] Nós dizemos: não haja reconciliação com o secularismo. Não deve haver reconciliação com qualquer outro caminho que não o do islã.

Eu poderia ainda falar da doutrinação de crianças palestinas que crescem querendo ser mártires, ou mesmo a negação do holocausto no currículo escolar. Materiais não faltam, mas eu já cansei, procurem vocês que é fácil fácil de encontrar.

Se Noam Chomsky se sente confortável em deitar na cama com esse tipo de gente, be my guest. Em seu texto pecou pelo que não disse, e sua omissão foi estrondosa. É interessante como tantos da esquerda ao redor do mundo defendem o Hamas por ser o lado mais fraco do conflito. Daqui a poucas semanas em Porto Alegre o Fórum Social Mundial será dedicado à questão palestina. Quero ver quantas sessões serão dedicadas à ideologia e métodos do Hamas.

Eu me identifico com a esquerda israelense, e não me faltam críticas aos meus governantes. Só pra deixar o texto balanceado, lá vão algumas...

-Vi agora mesmo na TV uma frase do Ministro do Interior Eli Yishai: "O objetivo da operação é fazer Gaza voltar à idade média." Deve-se destruir a infra-estrutura de água, eletricidade, ruas, transporte e comunicação em Gaza. "Apenas então a terra se silenciará por 40 anos", citando o versículo bíblico de Juízes 3:11. "Depois que os habitantes de Tel Aviv quase levaram [um míssil] eles não vão reclamar."
Esse babuíno chamado Eli Yishai bem sabe sobre a idade média, como líder do Shas ele sonha em nos fazer todos voltar para lá...

Binyamin Netanyahu é uma das personalidades públicas mais asquerosas que conheço, e olha que conheço várias. Ele poderia ter feito grandes coisas nos últimos 4 anos, mas preferiu não nos levar a lugar algum no que diz respeito ao conflito (e em outros respeitos também). Não compro a ideia de que não tem com quem negociar. Não concordo com a construção nos assentamentos judaicos nos territórios ocupados. Sim, ocupados.

Agora que já critiquei todos os lados, termino dizendo que a internet nos dá incríveis possibilidades de ler e aprender sobre opiniões diversas. O problema é que muito poucos o fazem. Quase todos nós acabamos por nos encontrar em bolhas de amigos que pensam como nós, e que reforçam as nossas opiniões. Não concordo com a visão de mundo de Chomsky, mas foi bom ter lido o texto, e é sempre saudável ter suas opiniões testadas por outros. Gostaria sempre de receber críticas positivas ou negativas (sempre construtivas) de minhas opiniões.

5 comments:

  1. Yair,

    Gostei de sua posição. Acredito que a paz em Israel virá somente com negociações(cada lado cedendo um pouco), para o ganha-ganha.
    Mas, há um ódio crescente nas crianças e jovens palestinos. Estes jovens(que são inúmeros), estão com a cabeça em lavagem cerebral pelo Hamas. Mudar isto, não será fácil, pois são sentimentos internos do ser humano. Infelizmente os líderes do Hamas, não são as pessoas corretas atualmente para a verdadeira negociação(libertação) dos palestinos. Então, sou a favor de que troquem ou aniquilem estes líderes. Estes líderes estão à frente de tropas cegas, que desconhecem a razão. A eliminação ou prisão destes líderes, deixará a tropa perdida e então poderá haver um novo líder para a busca da paz, por parte dos Palestinos.

    Fiquem em Paz !

    N.A.

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  2. Com quem seria possível negociar, na sua opinião? Fayad?
    Muito legal o blog. Abraço!

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  3. Israel pode, pacificamente, devolver todos os territórios ocupados e retirar todos os colonos. Com isso, teria um trunfo gigante e enfraqueceria o Hamas. Mas o problema é que Israel não quer a paz assim, quer a paz mantendo os territórios que ocupou... Segue no link, um artigo muito interessante de um jornalista judeu.
    http://goo.gl/gR5Wr

    Waldir

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  4. Yair, demorei pra responder seu texto, mas gostaria de dizer q eu tb, gosto de ter contato com gente inteligente q tenha outro ponto de vista do que o meu. E te considero uma pessoa balanceada, inteligente, e meu amigo. Eu não vou defender o Hamas, pq acho q isso está besides the point, pelo menos the main point.

    Queria ao invés disso fazer uma comparação com outros conflitos, em outras épocas e em outros lugares. Tomemos como exemplo o movimento para os direitos civis dos negros nos EUA. Havia, além do movimento liderado pelo Dr Martin Luther King J., os Black Panthers, q era um movimento não-pacífico, q hj poderia até ser chamado de "terrorista". Antes do carisma de MLK fazer a diferença, a maioria dos ativistas políticos engrossavam as linhas dos Black Panthers. A IFP, fazendo o papel de Black Pnathers, opostos a ANC e o Nelson Mandela na África do Sul foi a mesma coisa. Mas queria perguntar o seguinte: se estes líderes não tivessem surgido, seria a atitude de não aceitar os direitos civis dos negros (ou resp. término do apartheid) justificada?

    Acho q Israel, como os outros opressores que mencionei, tem uma desculpa, nada mais. Como disse Mary McCarthy em sua resenha de Eichmann in Jerusalem, “If someone points a gun at you and says ‘Kill your friend or I will kill you,’ he is tempting you to kill your friend. That is all.”

    Não acho q a resposta violenta seja justificada, e é totalmente ineficiente para os Palestinos, mas é com certeza a mais natural no homem. Israel, sendo obivamente o lado mais forte e esclarecido no combate, tinha o dever de fomentar uma alternativa para os Palestinos. Mas não me parece no interesse de Israel a via política. É bom poder vilificar a oposição. A resposta de Israel ao reconhecimento da Palestina como Estado, um primeiro passo para uma via política, foi um exemplo disso. Como escreveu Chris Doyle, diretor do council for Arab-British understanding (CAABU):
    "Former Foreign Minister Tzipi Livni called the Palestinian UN move “a strategic terrorist attack“; whilst the current post holder, the settler Avigdor Lieberman, called the President of Palestine, Mahmoud Abbas a “political terrorist”. Lieberman stated that “The diplomatic terror that Abu Mazen is leading is more dangerous for us then the armed terror. [...]
    The Israeli reaction in 2011 was to withhold Palestinian tax revenues, which is an illegal act, not equivalent to Palestine legitimately seeking rights at the United Nations. This time around, in addition to withholding the PA’s tax revenues Israel announced a further 3000 settlement units in the West Bank, including within the E1 settlement plan. If the E1 plan (a settlement area to the east of Jerusalem) goes ahead it would split the West Bank in two. So the reaction to Palestinians seeking their rights at the UN, has been for Israel to deny them further on the ground and steal more of their land with illegal measures."

    Abraço forte, q a força esteja com vc!


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  5. Btw, a analogia com a frase “If someone points a gun at you and says ‘Kill your friend or I will kill you,’ he is tempting you to kill your friend. That is all.” é superficial, só para ilustrar q o Hamas "tempts" Israel a oprimir, nada mais.

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