Saturday 17 November 2012

Israel tem o direito de se defender

“O principal objetivo da guerra é a paz” Sun Tzu
A doutrina da guerra justa é um modelo de pensamento e um conjunto de regras de conduta que define em quais condições a guerra é uma ação moralmente aceitável. Tomas de Aquino, um dos mais influentes teólogos e filósofos de todos os tempos, afirma que uma guerra é justa sempre que: (1) esta ocorra não por ganho próprio, mas por um bom e justo propósito (o exemplo dado é o do interesse nacional); (2) é travada entre duas ou mais autoridades institucionais; e (3) que tenha como motivo central a paz, mesmo em meio a violência. Se analisarmos essas três condições, não será difícil chegarmos a conclusão de que estamos diante de uma operação militar justificada (nos dois sentidos – de ser justa e entendível).

Israel tem o direito de se defender? Não, Israel tem o dever de se defender. Nossos governantes são eleitos para preservar a nossa segurança. Nossos impostos são investidos em inteligência e infra-estrutura militar. Nossa história nos mostra que não podemos (da noção de ‘ter o direito de’) nem devemos (‘ter o dever de’) esperar por ajuda externa para manutenção da ordem civil. A ação militar em Gaza é justificada, sem dúvida. No entanto, em meio as emoções que a guerra nos faz sentir, um pouco de razão e frio questionamento não faz mal a ninguém. A operação ‘Chumbo Fundido’ (2008) tinha como objetivo publicamente declarado trazer o Gilad Shalit de volta e desmantelar a estrutura do Hamas. Apesar de nenhum dos dois objetivos ter sido alcançado – Gilad Shalit foi solto em 2011 e o Hamas, como podemos ver, não foi neutralizado - a sensação foi de vitória. Uma vitória da ilusão, da paixão momentânea, do imediatismo político e do discurso militarista vazio. Uma vitória verdadeira não nos conduziria, quatro anos depois, a uma nova operação. Nesse contexto, cabe a pergunta: qual o objetivo da operação ‘Pilar Defensivo’? É a segunda etapa de um projeto militar de longo prazo? Se for, que seja a última; que o Hamas não tenha mais força para se reerguer enquanto grupo terrorista, que a tranqüilidade seja instalada em Gaza e no sul e centro de Israel. Entretanto, se essa não for a tão esperada última etapa acho cabível a reflexão sobre os meios adequados para chegarmos ao nosso objetivo final: a paz. Deveremos (no sentido de ‘ter o dever de’) buscar alternativas para solucionarmos essa situação insustentável; a diplomacia política é um meio razoável e tem sido efetivo ao longo da história.

Israel tem o direito e dever de usar todos os meios que estiverem ao seu dispor para obter a tão almejada segurança nacional. Um desses meios é a guerra; outro é a diplomacia. Ambos têm os mesmos objetivos: a restauração da ordem, a consolidação da justiça, e o estabelecimento da paz. Se um meio não se mostrar efetivo o outro deverá ser utilizado e vice-versa; o que não podemos é dar-nos o direito de nos tornarmos reféns dos meios, enquanto esquecemos dos fins. Mesmo que não publicamente declarado, espero que a operação ‘Pilar Defensivo’ alcance o objetivo que toda guerra tem; aquele que Tomas de Aquino percebeu há séculos atrás: uma paz duradoura.


* Este é o segundo guest-post de Bruno Lima. Ele é formado em ciência política e sociologia pela Universidade Hebraica de Jerualem, e atualmente é mestrando e pesquisador de ciência política pela mesma instituição.
email para contato: bruno.lima@mail.huji.ac.il

4 comments:

  1. Yair,

    O Bruno tem razão, mas os Palestinos tem o DEVER de terem um País !

    Isto pode ser obtido através de Diplomacia ou Guerra, assim como vários outros países no mundo conseguiram suas terras, independências ou reconhecimento.

    Acredito que a Diplomacia é o melhor caminho !

    P.S: A opinião pública mundial acredita no mesmo, e tem demonstrado uma certa "simpatia" pela causa Palestina. Parece ser uma briga entre David(Hebreu) e Golias (Filisteu). Mudem a forma de conduzir a manutenção do Estado de Israel ou ganharão cada vez mais anti-simpatizantes. Nota: Não concordo com a forma dos Palestinos também tocarem a questão(atirando os foguetes em território Israelense).

    Fiquem em Paz !

    N.A.

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  2. Vamos por partes:

    (1) "os Palestinos tem o DEVER de terem um País!"
    Concordo integralmente, mas te coloco a questão: por que Haniyeh (líder do Hamas) e os demais membros de sua organização não aceitam que Israel dialogue com o Fatah? Te explico o porque: o Hamas NÃO QUER UM ESTADO PALESTINO! É publicamente dito por porta-vozes, membros e o próprio Haniyeh que a consolidação do estado Palestino significaria a legitimidade do Estado de Israel, e isso é algo que eles não aceitam. Te pergunto: como estabelecer relações diplomáticas com uma organizão como essa? Ressalva: considero o Estado Palestino fundamental para paz; em um outro texto aqui publicado - "the paradox of conditions" - critico veementemente a retórica política de Benjamin Netanyahu em relação ao processo de paz. Dê uma lida que assim obterá uma melhor perspectiva da minha visão.

    (2) "Acredito que a Diplomacia é o melhor caminho!"
    Mais uma vez, concordo integralmente. Mas lembre: a diplomacia é efetiva em circumstâncias possíveis, uma operação militar é efetiva em circumstâncias de necessidade. E não tenha dúvidas: estamos diante da necessidade por intervenção.

    (3) A opinião pública é formada pelo que sai em sua mídia. Você sabia que o Hamas expulsou TODOS os representantes do Fatah (organização disposta a dialogar com Israel POR UM ESTADO PALESTINO) de Gaza? Você sabia que Haniyeh NÃO ACEITOU formar um governo de união nacional quando Mr. Abbas e intermediadores egípcios clamavam as vésperas da assembléia da ONU? Você sabia que o Hamas foi eleito em 2006 por tempo indeterminado, suprimindo qualquer oposição política, violando diversos direitos democráticos básicos como liberdade de imprensa, de expressão, de associação (que daria voz a MAIORIA CIVIL que se opões a uma representação política feita pelo Hamas), de igualdade da mulher, etc.? Diplomacia, sim, sempre que possível. Com o Hamas o diálogo é complicado; COMPLICADO, não impossível. Espero que os "anti-simpatizantes" entendam a complexidade da diplomacia nessas condições.

    (4) Tenho muitas críticas a como a política israelense conduz a questão - leia o texto ao qual me referi anteriormente para esclarecimento. Quanto a categorizações como "David (Hebreu) e Golias (Filisteu)", eu as evitaria; elas não explicam a realidade, não promovem a tão desejada diplomacia, não aproximam os lados e não tornam as pessoas simpatizantes do CONHECIMENTO DA QUESTÃO. Fica a sugestão.

    Agradeço o comentário e os desejos por paz. Estamos juntos nessa..

    Bruno.

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  3. Bruno,

    Acredito que o Hamas é um Câncer que deve ser estirpado ! Tudo que relatou, já é de meu conhecimento e acredito que de muitos também.

    Enquanto você "bloga" de Israel, eu escrevo do Brasil. Enquanto você passa(e muito bem) a visão de quem está no meio da guerra, passo a visão de quem está "assistindo" a guerra de acordo com as informações que chegam à nós(e que nem sempre é a verdadeira). Todas as informações que tenho são de sites Internacionais (CNN, BBC, etc) e dos jornais locais de Israel(Haaretz, Jersusalem Post, Palestine News Network, WAFA, etc). A guerra da informação faz parte do jogo.

    Para concluir, se Israel for invadir Gaza NÃO DEVE HAVER ERROS, pois os Judeus, Palestinos e o Mundo não irão perdoar.

    P.S: Cale os líderes radicais (eliminação ou prisão) e as negociações poderão avançar. Acredito que o único caminho é o ganha-ganha, onde cada lado deverá ceder um pouco para que todos possam sair melhor.

    Fiquem em Paz !

    N.A.



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    1. Caro NA, primeiro temos que lembrar que esse conflito foi iniciado em virtude de um exponecial aumento dos ataques palestinos da Faixa de Gaza contra Israel nas semanas anteriores a eliminação do chefe de braço militar do Hamas (Jabari), se é que existe uma diferenciação com o braço político.
      Ressalto que o aumento dos ataques foram "exponenciais", pois desde que o Hamas assumiu o Governo de Gaza, nunca deixou de lançar foguetes nas cidades israelenses, os quais foram mais de 12.000 (doze mil). Se as vítimas israelenses são em menor número é porque o país se preocupa com seus cidadões, criando procedimentos e sistemas para protegê-los.
      Já o Hamas utiliza seus cidadões como uma forma de angariar apoio na guerra. Para eles, quanto mais civis mortos, de preferência mulheres e crianças, melhor, pois podem se passar de vítimas. Por isso fazem questão de posicionarem seus armamentos, depósitos de armas e bunkers próximos de civis. Além de conseguirem maior apoio popular em seu território, como na Trindade de Clawsevitz.
      Israel age de forma contrária, o que reduz o apoio de sua população a guerra, por isso os artigos do Blog não são tão favoráveis a Israel.
      Com certeza, se Israel não tivesse um sistema de proteção e bunkers para a população, a percepção interna do país seria outra. É o velho dilema: Proteger a população ou incentivá-la à guerra?
      Voltando ao motivo do confito atual, esse aumento dos ataques se iniciou, aproximadamente, uma semana antes de Israel eliminar Jabari e foram de duas formas:
      - Ataques contra civis: Lançamentos de mais de 30 foguetes contra cidades israelenses e alvejando agricultores israelenses com tiros de fuzis e armamento anti-tanque.
      - Ataques contra militares: Ataques com armamento anti-tanque contra patrulhas israelenses localizadas na fronteira e tentativa de sequestro de soldados israelenses.
      Israel solicitou que o Hamas diminuísse os atques contra as cidades (nem se quer cogitou cessar, apenas diminuir para os níveis anteriores).
      O Hamas não só não diminuiu como os intensificou. De forma a mandar um recado para o Hamas, Israel eliminou Jabari, exarcebando ainda mais o conflito.
      O Hamas não quer negociar nada com Israel e nem pode. Sua carta prega a destruição do Estado de Israel e a fundação, no local, de um Estado Islâmico.
      Você sugeriu que os líderes radicais devam ser eliminados, no entanto, foi a eliminação de um desses líderes que exarcebou o conflito (não o que deflagrou).
      O problema do conflito é ideológico. Um dos lados prega a destruição física do outro.
      O que eu gostaria de saber de você é qual é a sua preocupação com os mais de um milhão de negros cristãos que foram assassinados no Sudão pelos árabes islâmicos e, ainda, o são? Qual a sua preocupação com o conflito na Síria, que já matou, em dezenove meses, mais de vinte cinco mil civis, a maioria mulheres e crianças? O genecídio que o governo Turco promove contra a minoria Curda e a ocupação de Chipre? A limpeza étnica que o Irã promove contra sunitas, árabes e pessoas de fé Bahai? A violência que o Egito promove contra os cristãos cooptas? Os assassinatos que o Hezzbollah promove no Líbano? A repressão que o Bahrei promove contra os xiitas? O genocídio contra cristãos na Nigéria pelos islâmicos? A limpeza étnica que a China faz com suas minorias, inclusive islâmicas? Entre outros muitos conflitos que existem.

      Um abraço,

      GB

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